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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

POESIAS DA RUA

Vida
Dentro e fora da Vida,
Busco dentro,
Fora busco,
Pretendo,
E não entendo
















Poesia da rua

Enche-se-me o dia e a noite da noite plena de encontros é tarde e eu teimo…
Em não deixar de chamar o dia
E de reclamar um hábito de diálogo
Com todos que me inspiram, abrindo à minha verdade
Outras verdades e caio com ilusão
Um poeta que cai pode ser um visionário
Em que abstrai e vê o mundo ao contrário
E o menino diz:
»»Mãe quero história««
Como a inocência está para a fábula
Está a poesia para a realidade e o poeta diz:
»»Não faço planos
Nem tenho meta a fazer poesia
Insisto que é por ser diferente
Como a fantasia o é para toda a gente
O meu discurso é sincero««
Por vezes o poeta nem fala verdade
É um discurso pela necessidade
De se vencer a si mesmo e à verdade instituída
De todos e à distância devorar as entranhas
Do bem e do mal e igualmente vencer a moral e o real
E o real pode ser nada





Deserto

Neste deserto em que me escrevo
Tenho em minha cabeça um pária
No coração um sentimento e em cada mão
Arde não a ferida da nossa separação
Não a ferida desse vazio avassalador
Massa íntegra do ser que gigante arde e faz doer
…se ao menos fosse a fantasia desse alimento que acalma
A nossa mão dia pra dia fechava a ferida, curava a alma…Mas, no entretanto deserto adentro…
Escrevo-me e descrevo os ideais que sustêm o parco alimento duma pobre alma cansada
Arremedo de nobre sentimento, vão tudo…longe nada
É dum cansaço o estupor…até ao seu redor tudo estaca e mina não fosse a falsa alegria e o pendor
Pra teimar que a zanga é de menina
Somenos deuses, ídolos e apetrechos
Mormente beijos passados…aos pés me jogo da esfinge absoluta num claro amor de devoção
E, nas rugas do tempo,  nessas bainhas
Vão claramente…as bailarinas que outrora usei, graciosamente fazer do passado o presente
Porém, em pleno deserto aquele que fustiga
Lavar a mágoa, indelével, dessa separação:
Filhinha, dá-me um beijo, rapariga!!!



Canção Inquieta

A luta pelo nome do caminho
Em todo o tempo é a canção inquieta
Sem saber que me comprazo
Se vivo, inquieto jazo

Dentro da minha vida,
Num minuete perfeito, roda-viva
Vem vida
Que jazes a meus pés
Eu subo à garupa
Que te fazes veloz
Por me realizar
As minhas palavras
São simples tréguas
E intervalos, no meu caminho
Com perguntas a colocar
Caio forte em finca-pé
Por nem rimar









Mundo Mundis Humanum est

Teus passos crucis
Estendes a outra face
Pela mesma moeda
Aceitas a gratidão da entrega
O tempo lambe
A notícia do teu suor
Que se faz cajado
Do que outrora foi, labor

E te faz cair silencioso no chão
Sem valores e sem nação
Paz lux
Lucifer crucis mundis
A oração lambe
O encanto do teu sangue
O coração torna-se personae
O que outrora foi corpus Christi

E te fez cair redimido no chão
Com valores e com nação
Assim é a Paz





Queda

Caí…
Caí dentro do meu espaço não-existencial
Dentro de meu peito cambiando
Ferem-me agulhas invisíveis
Caídas de restos dum pinhal e impossível
Há menso o tempo a caminhar, sangrando
O azul de meu lenço então
cor de saudade a qual cor o tempo leva,
Tornou-se carmim…
Digam-me, se não se importam:
Em quais cânticos se revela o tempo?
Sofro e não me iludo
…Esquecer-se de si
É apenas …contundente,
E a dor que se gera e grita
Não é a dor da revolta
…Mas sim uma dor de loucura,
Dor momentânea, extensa e obscura
Como o momento em que se esquece,
Em que se reconhece a ausência e
Os limites dum tempo-futuro-antecipado,
Dum tempo passado omnipresente entre
O limiar do presente e o caminho:
É talvez e porque sangramos,
Um basta cheio de inutilidade
Mas cheio do momento…

A Voz I

Irradia…
A tua voz oculta o tempo da voz
Feita dum tempo de silêncios

E a tua voz é tempo esquecido
Murmúrio oblíquo de cascata
...
Silêncios…
Irradia a tua voz, anela…espontânea

E num constante
augúrio e desvelo
Amanhece assim
a voz do teu olhar

O teu olhar-Perdido na voz…
A tentar compreender
o gesto e a atitude
Num grito pintado

Em uma tela feita pra pintar






A Voz II

Horas...
foi-se romper a rede das lágrimas
Há tanto tempo redescobertas...
Como borboletas saracoteando no rosto

É apenas a voz dos sentidos
Caminhando apenas
na redondez nítida
...dum momento perdido

O fim do caminho
A parecer-se contigo

Cala...ao longe até a estrada chora
É simples morrer sozinho
Mas nada é simples


Nuvem

Oh! asa
Esferal nuvem oh! Quimera
Contentamento…
Em dias de felicidade és casa

Caminho aberto à esperança
Sentimento aplacado sereno
Que existe…
Em algum lugar de um coração
que ama

Solitário, tema-se o coração

Vive um pássaro
dentro da felicidade
E dentro dessa nuvem

E uma oração é o seu canto









Rumo

Traz teu pensamento
E dele vem beber
À sede dos caminhos…

Irmão, já vários mestres
Se orgulharam da luta:

-- Em cada um havia a chama e a sede…

Em cada caminho progrides
E a tua luta pessoal atinges

Caminhas erecto, profundo e directo
Reflecte:
»»- Não é de pedra na mão
Que se traçam rumos««






Fantasia

Em torrentes de fantasia

Constrói-se a vida

Pensa-se a felicidade

Cruzam-se pessoas
Constroem-se multidões
Fazem-se poemas
Plantam-se árvores
E de mais temas,
Joga-se a semente
Dessa grande fantasia
Que é fazer gente,
Que é fantasiar…

Em sonhos, em ruas,
em jardins, em praças
Cruzam-se emoções
de diversas raças
Em barriga de gente há gente
E o mundo é… barriga cheia de poesia





Pétalas de Mãe

As profusas águas em
seus olhos comovendo

Por mil em mil renascendo
Fazendo lembrar perfumes-jasmim
… Delicados são os cuidados de mãe
São prendas que desfaz
Em pétalas…
Quão belo diz ser teu nome...Mãe?
Se são só pétalas, ou,
Ou um simples abraço teu
Cheio de teu nome...



Seres livre

Seres livre,
Ao peso da esmola
Seguras a pistola
E comes o vívere

Não podes lamentar
O pão poder esmolar
O sangue ferver
A guerra não vencer

Assim que acabas teu pão
Dormes na tua própria estrada
Livre do peso de ter que dar contas à vida
Livre do peso de o dizer e dizes nada…

Mas sem te poderes aquecer
Longe da ternura do costume…
E perto do Nada










Estarei sempre sozinha numa qualquer estação de comboios com música ao fundo…
…compleição distante dum conforto
Nem vida social…, frio, fome
No próprio detrimento da animalidade…
Ás vezes pensando em escapar;
Andando para longe do mesmo lugar,
Descalça pelas auto-estradas, já o fiz
Será que voltarei a fazê-lo? imaginárias e inimaginadas cidades na proporção da loucura
E entrever lapsos momentos de violência de feras abrutalhadas, homens e animais dos quais fugia
Ou manicómios que me mantinham na defesa,
Indefesa e distante da Vida, portanto da Realidade
Por isso anormal não sou enquanto vir
A infâmia que se apodera duma pessoa
À margem das leis…ou da sua interpretação real
O momento em que sobre nós desaba o mundo, eia!
…é como que iniciático, uma pseudo-realidade,
Que se substitui lentamente á realidade psicossocial
E depois, já somos outros feitos de leis novas
Numa verdade profunda
Apesar disso ……e talvez por isso
Não mudam as leis
Que não são nossas
Nem nunca serão

Vida Imperfeita
Eu vou subindo o monte da dor
Num comboio translúcido
Á aproximação da tormenta
Carrilando sobre escarpas
A alma num farrapo, doente e amarga
De cima, á toa
…poesia da boa
Em português ligeiro, dizem
Mas inteiro

E o sonho que sonho
Uma vez e outra
É de  dentro do ventre
Que sai e ecoa
Pra  fora…de mim
Só ás vezes se á noite
Não durmo bem
E se instala na insónia,
Não o medo, mas a plenitude
Da ânsia de ser dia
E, comunicar
Trabalhar e ver que a vida é feita
De pequenos detalhes,
Inimaginados, imperfeita



O Mar
Do céu caem mares
Varejos na sôfrega
Branca-absurda, imensidão

Em busca do embalo que forte
Traz à onda avulsa
O imenso chão...

...Mar descolorido buscando
O azul do céu
...A espuma de teu ventre,
Nas enseadas são
Algures a espuma
Das manhãs azuis
E acordados dias céleres

De sol quente, a brasa
Tua queda enlaça
Mar que breve
Multiplicado por mil sons
Agora, cai o céu em mim
E a onda em nós...
É cedo pra busca dos barcos
O mar fecha, o que fecha passou, passou…



Intervalo

Florestas pardas que aparecem e desaparecem
E me enlouquecem com os seus calmos e avassaladores poliedros em canção noctívaga…
Enquanto nela profusa insónia inquietante me cativa
Quando os pingos da tocha caem secantes
Na pele quase vão caindo no meu estado ínclito…

Agonizando essa meia-sensação na pele
Dum curto-circuito na mente e no coração
E já ardendo em estupefacção, cabe-me numa mão o eu…doutro qualquer eu nesse intervalo
Não o meu…mas o do cativo Ilógico, impensável
Em que me habito paredes meias dum incerto movimento, o teatro do sono me revela doravante
O que ao acordar não lembro
E é inquietante:
 vida acorda a seguir
A um curto instante,
Depois das pálpebras…em parco movimento
E o eu perdido no sonho em que se lembrava,
Esquece agora e afaga a vida
Como a uma coisa rara


Percursos

Longa vida e um tributo
Aos construtores de si
…que se amam com flama
Despem-se do memento,
Pra colher enfim o sentido
Do movimento ao Próximo
Um sopro, uma chama
Nunca ao acaso, nunca
Vida longa e um tributo
à Vida …








Reencarnação
Anjo de mim
Perfeita Crisálida…
Pressentes um só destino
Suspenso duma ponte
Entre ti e mim

Leva tempo
O romper
Entre ti e ti

...Sei que estás imóvel
Enquanto eu viver
… compraz-me saber
… ir ressurgir o meu recôndito
Da nossa interjeição, siderais
Perfeitos e osmóticos

Como uma agulha de cristal









Sem Abrigo… Enquanto as cidades

Dormem…há vidas a brotar nos buracos
Da escuridão…brotam no esgoto terrores
À espécie humana e sonham sossegados
Enquanto sem-abrigo dormem nas ruas
Em alerta aos delírios de mil
E uma fantasias fantasmáticas
Os detritos ganham a dimensão doutras vidas
Sinceramente ninguém quase dá por isso
Mas espanta os horizontes dos cansados
De viver em depressão…constante é o tempo
De remontar às origens e todos a querer
Viver enquanto os que morrem vivos perderam
A conquista da sua dimensão claramente
E vivem enquanto não morrem soçobrados
No chão em plena pele e osso de agonia
Pelo frio o torpor da desgraça contingente
Existem, resistem, respiram inutilmente…






Ode a um Músico

Cadências
e argumentos musicais
A geometria de um suspiro
Orientações da pauta…
Ópera de um génio
(ele era um pássaro ou um extraterrestre)
Ele era um músico:
Que podia conhecer a música
Sábio a ser génio,
Calhava-lhe a medida certa da pauta
Era por vezes como o poeta
Fazia em vez de fazer..
Dizia a cantar…
E falava das cores do mundo de cor.
Se era um doutor buscando o esplendor…!
E a liberdade de andar pelos caminhos…
Era buscando o amor










Apocalipse

Põe-te á escuta
Do que a voz de Deus manda
Sem o fazer não existes…
Tu és ninguém

E o bater do coração-guerra
Só a coragem comanda
-- ouvi cantar um pássaro triste…
…com a tua perda

Quatro cavaleiros
Fazem o teu apocalipse
E vão existir em teu lugar
E tu divagando ficas a ser o sem-deus
Ou o morto-sem-guerra

-- que o teu epitáfio descerrará :

Aqui jaz voz de nunca-a-paz
A voz de nunca-a-causa
A voz de seres ao longe
A voz daquele que bateu em retirada
Mas nunca lamentes se bateste em retirada
Pois a moral e na realidade
A síntese da sua realidade oposta


Oh! Pobre

Teu lamento adoça
Com a lágrima rolando
e reparas no encanto da vida
lá fora onde estás

Caindo chuva no teu sem-abrigo
Sais desse buraquinho
Lá dentro também chove

É manhã tens os ossos gelados
Trémulo aguardas o sol
Que te faz acontecer os passos à deriva
Se faz calor-luz
Tisna-se-te a face
E desfrutas a natureza nesse enlace
De duro-eterno-movimento…











Prostituição…
Por pão
Nos oferecemos a troco…
Sob diferentes formas
Nesta sociedade
em diversas montras
Onde é inverso
O contrário à propriedade
Adiante pela loucura
Faremos uma ode ao vento e á chuva
Pra redimir pecados
E pela má-sorte
O próprio vento se faz tufão
A toda a rima
É mála suerte
Pois o vento não adivinha
Adiando projectos
Que de raiz estão mortos
Submetemos a sorte
Ao jogo do perdão pelo cinismo
É Deus que adivinha
Sedento de oração e demais apostas
Nesta sociedade ocidental
num qualquer tapete vermelho-sujo
De prostitutos, o cânone estabelecido conta
Deuses do nosso próprio destino
Ei, V. aí quem o mandou avançar?

Deuses das sete partidas

Clamo por deuses
Que não sejam o nome de Deus
E encontro um abismo
Pois deus é por si só desejável e crível
E por ele não se reclama nem blasfema
Por vezes são fantasmas doidos
Que agitam o nome da terra e do mar
Inumanos mas attraentes
Perto do caos
Do lume e da tempestade
Em torno da terra
E da natureza humana
Estúpidos e vorazes
…em nós chamam o nume de sete partidas

E p’los sete mares…
O povo português que em desafio
o chama da ásia oriente às costas d'áfrica, cobiçadas
Adamastor
Seja por não ter norte
Ou da mor têmpera pela vileza da fama
Para manter em forma
Nas massas a chama acesa



Normal

Eu quero agarrar o mundo
Mas há só um fio de areia
que me escorre entre os dedos...
Comecei a escrever
sobre a minha perplexidade
Teimo que é verdade...
Mas o normal duvida
É certo que cabe na razão
a dúvida contida
Mas no diálogo pressuposto
Surgem dúvidas aos conceitos
Se por razões imperfeitos
Ou por não serem sinceros
Trabalho continuado
Entre a dúvida e a verdade
Porém o diálogo normal
é só a realidade
De fuga em fuga
Componho uma pseudo-sinfonia
Escrevo um poema
Entro em harmonia







Tem dias

Há dias que tem dias
No aperto do coração
As promessas afias
Dás o que tens na mão

De cabeça doida escrevo
O desassossego reinventa-se
E mal cuido que sossego a Razão,
É o peito que se esquece

Há voltas e voltas a dar
E se nem assim eu cuido
Que por desassossegar
É tudo que mais iludo

Se me esqueço de dar
Um simples abraço
Ao meu semelhante par
Em todo o meu espaço

Por incrível que pareça
Eu abro a mão e não é fugaz
Antes que endoideça
Por certo dar me faz



Lisboa

Adiante a pequice das pombas
A inquietude arguta dos pardais
O cão nómada de olhos cubicundos
Por vezes, a apojar, o Tejo deleitoso
Estendido sobre as velhas
Grenhas…,
E os novel da cidade

...cai a noite, o dia ensinou-nos
muitas coisas
Não fossem a virgem e
o fado escorreitos;

...vinga e compõe-se aprazível o dia
Aos meses que se enchem de sol
Sucedem-se em apogeu bons anos
...
E os velhos apostemas


ludibriam-se a si próprios
O senhor vinho dá-se
conta que há moral
Palra e bebe à saúde...!
Que há muita Lisboa
para se nos oferecer
Incerteza

Amar queria eu
E saiu-me do peito um cântico
...vou enganar os pássaros
E dizer-lhes que estou alegre
Ou que é difícil deserdar o pânico
Construir um alerta

E saiu-me um cântico

...vou entrar num qualquer caminho
Por certo não vou sozinho
Todos temos sede de amor e liberdade
...vou por isso dizer um poema
De garganta aberta

Amar queria eu
E dizer coisas simples como um grão de areia
Mas sinto o sentido a fugir
Do peito e das mãos
Como débil

Amar queria eu
E saiu-me um cântico




Liberdade

Perto do negro de mim
A voz incandescente
trancada no peito
Entre o espaço e o tempo

O tempo que invade os nós
dos dedos cerrados

...causas impossíveis de realizar

Lábios queimam ...
O lume frio dum espaço
cada vez mais exíguo
Sem movimento nem apercepção

A voz trancada no peito
Clama a liberdade justa,
Quimérica e absoluta...impoluta

Vivam pra sempre os heróis!







Partida

Não o sei…nem me lembro das palavras,
O tempo também não me disse
Teu nome é também um adjectivo e o mais que és
Uma sombra do que existe

Ao tempo em que éramos dois
E também um em particular
Além da sensação…era tal que voávamos

Não quis antever tua partida
Nem me doeu ao espelho ser um só…
A cabo de tormenta, o desengano
De uma inteira forma de imaginação…
Quis que teu alguém me contivesse no adeus
De lágrimas perdidas

Mas a chama, o fogo, o lume…
Aqueceram nossas vidas, parcelas de nós dois
É findo o nome do amor e do adeus
E cada rasgo de quimera nos sonhos meus
Já não me povoa, ainda que doa
Simplesmente esvai-se como dum gargalo
Antes alcança a recordação
E, simplesmente alimenta a saudade dos bons momentos



Realidade

Ás vezes sucede-nos o absurdo
Sem culpa queimam os olhos da noite

A realidade nua e crua
...o vento pela janela
Consigo arrasta vozes
Que nos chamam

Arrastam ao vazio
Ou provocam um arrepio

...são enganos, são enganos
…Tormentaeinumano

Delírio dos enredos
...faz-nos medos

O sol brilha, já é dia
Já a noite não é recente
E o acordar é espanto
Do que dormiu , entretanto






Giesta da Poesia

Manda na giesta
A prosa do terreno
Como que lambendo o além,
A poesia universal
A sós o poeta no limite
Buscando um paralelo
Ou uma porta do existencial
Que afronta em sede
A glória do eterno

Cruzando pensamentos
Ou emoções ataviando
Desfaz-se em pó a giesta da poesia
…madura,
Orgulho maior na sede
De vão ensejo de bêbedo
Amar antes e por finalizar
Pra sempre a glória do desejo
Juntos nos elevamos
Aos céus em fila indiana
À espera do momento certo
É o espírito que desejou
O pecado breve
Ou quem nunca amou



Silêncio

Silêncio noite pausa da vida
Estreita caminhada
Caminho seguro…amor e estrada

Sensação
Do tempo redondo…génese da vida
Folha breve oculta expansão da vida
Entendimento solene caminho extinto
Sob os meus passos á escuta, à escuta
De outra pausa
Na música dos sentidos

Só às vezes
A noitinha se abre como uma flecha
No sentido de noite escura
Silêncio, que o amor também é redondo
Imaginando a lua--A paz dos amantes
A vida em paz
O delta
Dum caminho iluminado







Dos artistas de rua

Somos o animal dominante
E contudo temos medo
Somos o enclave da razão

Mas caímos no próprio erro
E há muito que desertámos
Há já muito que somos desertores
Uns refugiam-se na sociedade
E vagueiam
Dão de beber arte aos transeuntes
São amantes da loucura

E não têm só medo
Têm algo mais pra dar
Têm a sua própria vida










Mulher Eterna

Nos finos dedos do mar
Vão ondas a balouçar
E choram as ondinas
O amante perdido
Dentre elas…
Cabelos longos
Olhos de amor
Mulher-menina
Sublime tentação
Adão caído
Pelo fado do pecado
Oh! Elementar
Danças de ventre
Mulher-mãe
Quem quis o destino
Ser a mulher-eterna
Sobretudo e ademais
Flores de malmequer
De amor…ais!
Como Deus a fez
Um gesto de adeus…entre os amantes
Nada fica como dantes
Mulher-eterna…deusa-fértil
Eva do doce pecado
Deusa das flores
Amor doce amor

Jogo

Enquanto a mão for gesto
Enquanto o que é simples
For o teu cuidado
A tua humanidade
Faz de ti único
O teu devir
E o meu silêncio
Tua dúvida última
Quebra as amarras
Do passado, portanto
És dono de ti mesmo

Encerras na tua intenção
O sentido da vida
Em direcção ao jogo

… joga e tenta a paz










Um momento de verdade

Agarro-me ao ventre das escadas
Como que refém do que aprendi
E já outro…tropeço nos meus princípios
A subida é longa e sabe a verdade
Mas o patamar é errático
E distante da verdade lá em cima

Subo afastando a dor e a revolta
Por não ser já dor o que sinto
Mas uma sensação inútil

Sobre o que é a verdade senão o teste
Á razão aproximada do bem supremo
E a escalada sem retorno

Subo a razoável ladeira da vida
Ou a escada do saber, as duas ou nenhuma
E nesse caso vou viver pra rua
E clamar ao povo que o povo
Tem de desistir de subir ao que quer que seja
E ser livre como eu…mas, os construtores de escadas
Mandar-me-iam prender
E de mim fariam escadas novas
E maravilhosamente polidas
Como um monumento
A um momento de verdade

Chamamento

A verdade é um chamamento
A verdade é o momento
Em que tu …clamas,
Em que eu invento…

Perto da existência
Perto do maior que há em mim
E perto da verdade maior

Maior pode ser o ínfimo espaço
Da liberdade possível
(Dou-me conta que existe silêncio
Nas palavras do poeta…)

Cai-me das mãos a minha heresia
E desdobra-se-me a fantasia
É hora da palavra
E do momento em que pode sê-lo
Vôo…








O Sentido na Vida

Ser feliz é ter a imensidão
É como estar dentro do vento
E não ter direcção, livre…

Se faz sentido, atento
Eu ter um pássaro numa gaiola
O amor faz de nós doidos

Eu amo o meu pássaro
Quero dar-lhe amor
Oferecer-lhe um mundo de mim

De contrário, não teríamos essa dádiva
Essa razão tão especial

O amor prende e fascina
É motor da nossa atitude
É o nosso sentido na Vida









Firmamento
Despem-se em farrapos
As nuvens em queixume
Da mãe-água dos ventos
De perfume cadentes
Parecem brotar do
Espaço e o vento
Dissipa-las no meio
Dos cúmulos
Incandescentes ao sol
Douradas e espraiam-se
Num rasto de poeira
Luminosa e o arco-íris
Esconde-se por detrás
Dos seus prantos à
Força de comover
Os olhos das crianças
E dos velhos e mais
Quem passa e os azuis
Contendo…as
Proporções complexas








Eu, náufrago

Eu era um náufrago
O mestre proveu-me a mesa
Onde foi minh’enxada
O chão lavrou…!

Enxertei dos cânticos um pessegueiro
E minha oferenda dignificou

Multiplicou-se-me o esforço
Não tinha nada nas mãos
Caí no chão e levantei-me

Do que antes não via fez-se luz
A luz é uma senda

Proveu-se-me a cesta da merenda
O fim nunca acabou










Herança

Tão perto do sentido iluminado
Tão certo ser a onda em mim
O sentido perto de mim
A caminho duma rota longíqua
Em parto longitudinal
O falo inconsciente do náufrago
A respiração desse sopro
Em chama de vida essa chama de vida
A rosa que brotou desse instante
Em que o náufrago depôs a beata no cinzeiro
Longe desse instante o mar grita
Clama pela lisonjeira vida do náufrago
E já a Morte acorre à lisonja
E já o instante da Morte
Se transforma em vela acesa
De pavio trémulo em forma de coração
E o sentido da Vida faz-se alaranjado
E o cinzeiro meio-cheio de respiração morta
E mais um cigarro apaga esse instante
Oh! Morte fica longe
Que eu nesse mar não entro
E não um cálice mas dois à saúde
Da rotina da desgraça ao que é engraçado
Como se morrer fosse um ápice
E viver engraçado
O Ex Morto pela vida fora diz que se salvou
Não fosse a Morte um cálice orgástico
Cheio de luz e músicos do deserto
Estive perto…estive perto…
Sobrava um abatjour e um cinzeiro
Nesta introspeção
Cheio de amargas pontas de luz
E um cofre de migalhas de amor
O vento derrubou a ameada
O mar caiu em despropósito
E em gotículas de vapor
Rodeadas pela testa em chamas
O desespero agarrado ao cútis
Em pélvica lembrança a lentidão da vida
O requebre da memória
Desperta o uivo do comboio que soi já ter chegado
Para a última partida
E o sangue de ser eu já não
É o suor de gente
Porque dessa forma o conviva abandona a festa
E faz-se imprudente a razão
Em delírio alcoólico
E vários cinzeiros amontoam-se
No espaço de causas perdidas
E eis que se abate a causa
Da discussão e o brinde é geral
…languidamente a chuva entretém as crianças
A idade da razão vai-se fazendo lentamente
…escorrendo em têmpora pelas vidraças


Sede Amor, em busca d'Ele

Eu tinha sede de amor
Vieste à minha mente
E foi-se meu desagrado

Tornaste meu mundo salutar
Tua palavra sábia e guardada
Libertou-me do peso do passado

Porque agora tenho n'Ele
Tempo para fazer e amar
Porquanto te amo, mestre

Que inspiras outros mestres de cultura
És o anjo, o santo e meu
verdadeiro sacramento santíssimo












Ego
“Isto é o que me está a acontecer a mim
 Por Isto é o que está a acontecer”

Ego, Vida Social
Subitamente dei por mim perplexa
Isto estava a acontecer-me
Ou por isso dei por mim a não pensar no ego
-------------------------------------
Isto é o que está a acontecer
Não a mim especialmente
Mas o facto de per si
Contraímos e pensamos a situação
…(in) telectualiza o facto
De si mesmo o em-si
Ab situação da mente
(de) mente
Esvai-se o momento ipsus facto
E o artefacto do pensamento
Torna-se uma construção
um projecto de ideia
Que esboça uma via interior
Para o compromisso que se desenha
Na situação que obriga ao desenlace





Reflexão

Eu não choro há muito…eu reprimo em mim
…também o que há de melhor
Eu só queria a ataraxia pra ser livre de chorar ou não
Mas reprimir-se é trauma, e não chorar para não perder o orgulho ou a dignidade
Ser livre como os pássaros
Eu queria …só queria não ter medo de voar
Hoje, apenas tinha um lápis
Usei-o religiosamente e disse ao resto do povo:
-- há que não ter medo de ser livre
Eu, eis que uso apenas um lápis
E, fui considerada por esta afirmação
Mais tarde, achei
na calçada uma caneta…deus ou o acaso fizeram isso
o que me levou a reflectir:
- Para uso legítimo e diferenciado
Mas pra destrinçar só a mente humana…
Sou poeta, na verdade sou privilegiada
Porque o povo quase todo não destrinça quase nada

Mas, por deus…eu só queria chorar e comovida
…ou adiante..e a seguir dar uma gargalhada
O povo quase todo chora ou ri…mas eu, ás vezes
Nem me sinto como vivente, comovente…
Uma opinião dentro de mim
Vagueiam absurdas as palavras
Estas palavras chegam-me à mão já dormente,
Dormentes…e o papel em branco
Quase se estilhaça…nem a rir, nem a chorar
Diz o que sentes ao resto do povo
Que também tem seus motivos
como poeta, és um símbolo da paz
E a urgência pela revolta é uma posição
Eu também tenho motivos para a indiferença
Um motivo para não chorar
Ou rir desbragadamente é que o meu sentimento
Cai em mim na vertical e ter uma reflexão a oferecer

A minha emoção concreta perante os dilemas
São os meus poemas em que me sinto identitária
E não banal -- partilhar contigo, amigo
A busca de uma solução e eu enfim, pergunto:
-- que é de mim?
-- Que é Deus?
-- O que é o mundo?












Luto

Luto de mim, apresa de gigantes
O nó dos sarilhos no arpão,
Bato no fundo vazio dos argumentos
Não é tarde ou a noite cai ou assim
Se ao menos ao Diabo
cedesse a minha derrota

É manhã em tudo igual
a tarde triste…afinal o
Carteiro ainda não chegou
A revoada de pássaros nasce
e morre com o sol
Aos quatro cantos desisto
e recomeço como todos
Onde me fui buscar é
onde me estou agora
Há já idos tempos imaginei ser livre
quais pássaros transcendentes
que nunca existirão
Amiúdo os pensamentos pois
até existi-los é magro
Que nos pensamos e existimos
dentro do universo,

…e o universo é uma bolha de sabão!


Mojica

Pajaro multicolor breve
Momento final esparso…
Nenúfar guiante leve

Mojica…

À direcion des espácios
De mil ábregos en
Su semelhante



Pesar

O comboio que esconde a oliveira
só busca mais espaço

em razão é a causa e é a busca

à porta da igreja
o nosso íntimo deixa-se invadir
mas o pesar é que nos invade

de toda a terra ardida e saqueada

de toda a montanha ser o que nos resta

Outsider

Errante fui…
Sou e sempre serei um outsider
Em todos vejo
Muralhas e inveja
Desassossego e cobiça,
Loucura, habitualmente…
Queria…
Não viver a estupidez
Mas estupidamente
Deliberou-se em min
Ser deste modo, consciente…tanto, que eu olhei O’ incomum
Os passos perdidos da miséria
Onde há leões vorazes
Mas também raposas
Que me mutilaram congruentes
Que me mutilaram congruentes…
E depois foices me talharam vícios
E fui caindo em precipícios
Por não ser da matilha
O que eu ao princípio chamava
Filosofia…
Cruel delonga prosódica
Me investiu vazia…




Transeuntes

Moram transeuntes
No seio de babilónias
Díspares e absurdos
Miríades de colónias
Como formigueiros
Alheios ás estórias
No seio das moradas
Cavam com o gume das mãos
No fundo do que preexiste
Como se pudessem alcançar
O alimento eterno
Alimenta-os o pão de outrem
À face desolada outros
Pão nem nada
Se alguém se perde, ter-se
Concretamente não saberá
Nem achar-se saberá
… o rumo da morada é oculto
Se por morada se entende conforto
Ou conforto, o ter nascido…







A saudade dum soldado

a tua poesia alada na missiva
sim, a tua poesia alada
é como pingos de mel
no sal de mim, amor, saudade

teu poema cansado
de existir começa...
onde acaba o fado
por agora sou eu, nuvem
em ti demasiado
a ser começo ou agrado

os simples não têm história
encomendam a alma a Deus
que o final fica na memória
caro foste e és
até ao último sopro da demência
casado com o adeus...
a tristeza deixá-la
de parte, os que podem ficam
amor, lindo amor
cantas à lua, ao sol
ao vento pronunciado
e a teus pés o solo está molhado

o sangue contido em tuas veias
desprende-se aos borbotões
exultam de alegria as causas velhas
à mistura com heróicas canções
enquanto te fizeram um
preço justo à morte
a troco de um sentido do dever,
partiste-te de mim
… abandonados à sua parca sorte os
demais desesperados sem amor
amêndoa amarga e doce
destino ou poder
eis vitoriosos os soldados do amor
trocaram a paz pelo preço
justo do amor a Deus
e a serena valentia coube-lhes
no fim abraço forte e a
a condecoração que lhes valeu
ó, destras almas amigas
pensem que o sinistro
é como a curva do destino dado
no caminho perde-se de vista
aquela condição de sentir o fado
de pela destra mão
ir dar à sinistra triste agrado
e no fim morrer para lá de triste





Abandono

Avistando na rua o vagabundo
Face à superstição
Que mesmo flutuando
não voava nem nada
Despontou em mim um medo profundo
Que calado nem na mão
Valia nada
Nada era o meu medo
De que outrem
Pujança havia no escuro
Ao assustar-me
Uma sombra
Uma escada sombria
Era o nada, era a vida
E era o muro

Silêncio que houvera
Havia de nascer melancolia
Em mim já nada
Se aproximava doutro alguém
Já nada era meu
E doutro havia





Rapsódia

Longes pássaros
Finalizam o dia
Ou abrem as manhãs
Na copa das árvores
Indiciam as brisas
Entre o mar e
o seu semblante
às nuvens trinam
e vêm a medo
pousar ledos
no mirante
















Fez-se Inverno

De repente
Sem medo da memória…
Relembrando as brisas suaves
Da primavera ou,
O têmporo verão
Que doa a palha

Fez-se inverno…
Arredado e quedo
Num qualquer banco de jardim
A um tempo cego
A um tempo surdo
A um tempo mudo
A um tempo sem dentes

Oh! Sim sem dentes
Oh! Sim sem dentes…

Fez-se inverno
Em tua alma, velho
Com destra mão entendes
As tuas pombas contentes
Que te entendem
Como tu és como elas são



Homem livre

Tu oh! Homem livre
Que violaste todos os princípios
quererás aprender os erros?
…cometidos pela liberdade…
Pela ânsia das promessas
Feitas no jogo
Entre ti e os teus iguais

Dentro duma revolução
Ou defronte a um
Qualquer altar mitigando a dor

Na luta pelo teu próximo
Estão em causa
Os teus ensinamentos
Contando os mortos e aleijados
Em número inimaginável

Acerca de ti fala o povo

E o povo fala…
Só quando tiveres passado





Subtil

Á noite no sossego
Parece o buliço
Estranhamente inútil
É senão quando
Nos invade o medo
Amansa-se em nós
A pouco e pouco
O eu inquieto
A porta fecha-se
As pálpebras pesam
O mundo dentro de nós
Ainda gira
Num sentimento inútil
O sentido desse movimento
É inútil
Como um louco na cela
Se agita no segredo
Caímos no leito
E amamos ou sonhamos
Após o arfar do dia
Que passou nesta mão vazia
O corpo jaz no leito
E buscamos um encontro perfeito
Para entrar no sonho…
Esse monstro medonho


Rua, sobretudo  palavras…

Busco, sobretudo a harmonia das esferas
O nirvana na decadência incómoda e insidiosa
Só não tenho poemas de cama
Porque os perdi, os tendo feito
Outrora viciosa
Sei bem que já não se usa ser pelo claro
Pelo classicismo ainda que aventureiro
Que se usam agora treze pancadas
Um xis concreto de ideias
E, sobretudo nas ruas, palavras
Massa habitual habituada
Habitualmente…a ser apenas habitante

E eu a zelar pela palavra  quero somente ser visitante,

Não escrevo para ti,
Escrevo para a síntese galharda
Afora não tero dom da ironia
Perpassa meu olhar
A tua bastardia…
Sobretudo, nas ruas , tuas palavras






Delírium

Rua escura, os dedos da noite
Em algum espaço ganharam rumo
E o profeta teve rumo…
Às tantas a noite escura, desabrida e incólume
Fechou-se sobre si mesma
Já não há lugar para a luz, o silêncio ruiu sobre si
O medo saiu à rua com medo da noite escura
Os temas do desassossego os enredos do tempo
O lume dos sentidos o cão de todos os infernos
O adjectivo – ai de mim – ecoando ao longe
O pesadelo de si próprio o gume do impróprio
Às vezes o silêncio na razão do imaginário
A arte de me ser gente o ouvido do deserto
A bússola ardente a chama do infinito
O mistério do amor a chama admirável do amor
O admirável mundo novo,  roca do destino
Cabe-nos na mão o gume do espanto
Caem perdidos na noite os dedos

E na miséria o riso do bandido
Escapa-nos à lógica!
Por assim dizer, trémulos na vil bandeira da desonra
Sinceros queixumes como balas náufragas
Balas do medo transitório transeuntes roendo laranjas
O perdão de Deus ao fim do dia
O dia do Diabo – perdido diabo!...
Volta ao lume! O espaço de mim
Caindo na sombra do terreiro ás margens do impróprio
Às vezes penso que a vida não nos perdoa
Sem lucidez ecoa na alma um tesouro perdido
Cai a prumo a voz do silêncio
Cai a paz
Cai o véu da dor e da desonra
O vilão chama o vilão
A calma das pombas acontece na bruma
A vívida e serena paz que nos alimenta
O que resta dos nossos dias
A Circe dos enganos - Prometeuroubaste…o fogo
Serenamente penso: eu te amei
E tu levaste meu voto pra sempre!
Pelo rio da miséria
Agora desabafo em catadupa todo esse horror
Às vezes ris-te e tens medo
Cais sempre na armadilha da falsa amizade
De ser ao longe a distância desse lume cego do coração
Ao longe ver a noite e sê-la apesar da escuridão
Se ao menos no debate indistinto
A questão é a pergunta traz à sede alvíssaras
E cala na alma a febre da traição







Vi o tempo passar…sem-abrigo

Ruas da rua…Gente no tempo e
gente sem tempo e eu fora de mim e do momento
E fora do tempo sem espaço pra arrumar
quais pensamentos?
Em actos invisíveis num lamento
Porquanto sem coexistir, líquida,
sem-abrigo, eu vi o tempo passar

… na derriba do meu pequeno
mundo, mostrou-se a Morte
Junto à curva, como Um último ser do tempo…
de costas pra mim caminhando,
só e gentil pra companhia como Deus
e eu com fé  numa última forma de existência
resolvi segui-la com absoluta tranquilidade

E vi os caminhos que seguia a morte
Tudo arrumado e petrificado de sua sorte
Fechou a porta - a gente, ausente, pouco importa
aos ausentes o velo acrescenta e aumenta o sem-abrigo
que representa o estado próprio
Do estado duma nação





Vidas a crédito-Uma Casa

Fechei sobre mim mesmo
O uso das obrigações e o apartado ínfimos
Fiz dívidas, agora jazo na rua
Em esmoler - Jazes na rua em esmoler
Que nem um animal sem dono

E quando os teus filhos
Te pedem o que é seu de direito
Tens que negar…O que também a ti te é negado

Não caminhas contente nem triste
Pois ainda tens esperança
Ainda és humano apesar do respirar tacanho

E sem pudores estendes a mão
…ao teu irmão e ele querendo ou não ofender
Diz que não pode que já passou a tua vez nesse dia
Mentindo ou não afirma-o

Á beira dum abismo cada vez mais fundo
Á beira da depressão e do torpor já não medes os passos
Muitos caminham pela rua, sem-abrigo
Vidas a crédito e de mendigo
Que se diz: - Ai, céus
Quem veja e venha pra ajudar

Uma casa de direito calha a jeito e eu a habito
Torno-a habitual, nada mais, O sistema escolheu-me
A salvação…ao acaso
Agradeço tantas vezes, deitada e confortável
Por demais…que até parece demais
Os anos passam …e passaram, mas parto
sempre do princípio…do começo
A minha doença aflige-me,
aflige-me a sina e enche-me de revolta
o ter de começar de novo por não poder ter tido
escolha no início…por ter que me humilhar
agora ao pedido a uma sociedade
que vejo deformada, oculto o perigo
quando avisto o abismo vêm as tentações
O medo da solidão e alguns hábitos antigos
bons e menos bons recuperar e retornar
Mantendo o presente agora já não temos
os dedos maliciosos da sociedade apontados












Caminhos do coração

O amor que gesta-pão
No seio das criaturas,

profuso dá-se a mão
profuso acarinha o ventre

… é clemente deveras
…abre a porta das prisões

…Aumenta a tolerância
nas esferas intangíveis

…E abre-se o coração
Até mesmo dos imprevisíveis
O mesmo caminho é a mesma direcção

E o amor abre caminhos impossíveis
… na gesta do coração
Até mesmo uma porta é uma prisão







Ventania

Hoje fui à janela
Para ver a ventania
E mostrou-se por ela
Aquilo que se via

Vi dois corvos e uma gata-preta

…Fechei a janela
E abri-a- novamente
…e os corvos eram pombos
E a gata-preta era gente
















Conversas

Ainda o tempo não se tinha mudado
Ainda a manhã não tinha tempo
O coração suave batia
A manhã não se ouvia
Pusemo-nos a caminho

E era a estrada que se movendo
Aos nossos passos se abatia
Era o horizonte
Uma giesta, uma flor
Para mão na mão e, ao caminharmos
Sentir o sangue e o suor
Da jornada carregada de intenções
E, como que desmaiando, cantando
Os pássaros e um raio de sol baixava
Já ao fim chegaram os trilhos
E, abrigando-nos da chuva, que era do sol?
Café quente tomámos no abrigo
E conversámos conversas de amigo








A Mão Humana

Queria falar de agricultura
Queria falar da natureza
Mas isto é poema
Queria falar sobre a revolta
Constitui-la
Mas á mão humana não falta beleza

Mas, se pensarmos bem
Existe um desvio impune
Entre o natural e o costume

Há uma natureza quase morta
E tudo o que resta não importa
É a revolta


Terra de Ninguém

Como será o Além,
Pra Além das suas estepes?
Imagino-as sendo
Como me imagino…
Morrendo
E, porém seres impensáveis povoam
a minha mente

…existe tanto o que estás a ser
Como o que queres
Que se te faça acontecer
E a proporção inversa
Do que te poderá acontecer
Transpondo os limites do tempo

O humanóide no limiar do sonho
Construiu o espaço em viagem
Para além da sua condição
Em busca da liberdade
E de novos poderes
Para a sua alma sem-abrigo

A vida vai balouçando
Como um barquinho nos afluentes
E é a mão de um deus
Que ondula as fráguas…

Simplicidade

A simplicidade
Duma mão que compreende
Tem um tempo sem idade
Tem o gesto que se entende

Na pureza do olhar
Cabe nessa mesma mão
O sorriso de encantar
Duma criança a brincar
Pelas asas dum balão


Émulo I

Amanhece ao tempo
E compreende-se o émulo
Perdido na saudade,

Sem querer agora entardece;
A bússola pelos ausentes
Gira louca e sempre

Cai o pano porque nos dói o tempo
Sem esmoer da brevidade…
Dói-nos também a quietude

Se ao menos se aprendesse
De cor a magia dos espaços…
E a loucura de amar

Não fosse um breve instante
Era o tempo feliz
Era o momento guiante








Émulo II

…os simples são os que se calam
Os simples caminham nas veredas
E por eles as bruxas tecem rendas
Com que tapam os delírios de amor e ódio

Se sobra caminho á felicidade
É porque o silêncio dos serenos
Tornou os caminhos plenos



















Incerteza

Amar, queria eu
E saiu-me do peito um cântico
… vou enganar os pássaros
E dizer-lhes que estou alegre
Ou que é difícil
Deserdar o pânico
Construir um alerta

E saiu-me um cântico

…vou entrar num qualquer caminho
Por certo não vou sozinho
Todos temos sede de amor e liberdade

…vou por isso construir um poema
De garganta aberta

Amar queria eu
E-dizer-coisas-simples-como-um-grão-de-areia

Mas, sinto o sentido a fugir
Do peito e das mãos
Como débil

Amar, queria eu
E, saiu-me um cântico

Ai, Ai, Ai

Novas de meu amor - Oh! Que gentil povo mix
Certezas de o ser amor sempre novo

Calma, paz de mim
Amor novo de meu ser
Que um anjo me revelou
A novas costumado
Semblante gentio de flirt
Gentil no âmago de mim
Ao seres em mim mudado
Seres em mim mudado em rio
E desaguas somente original
E vanescendo o orgulho
Demorado em supino sãs ilusões
Gentio, és a minha prenda

Teu botequim ofereces
Junto com nossas preces
De afim os dois:
És mestre…
Na arte de bem-estar
Dás-me um passarinho
Sem gaiola só pra me agradar

Ai, Ai, Ai
Como suspiro de amor por ti

O Giante

Vive um giante louco no meu peito
Aberto coração dentro de mim
Aprisionado coração
Calado sendo ausente
Que nos dá sentido à vida
Lucubres monstros sociais
Imaginários  e dementes
Quais quimeras em mais
Marcam como tais
Filhos de guerras físicas ou psicossociais
Rotundos e redondos
em pródigas esferas
Destacados em debates
Gigânticos, brutais
Em nós vivos como feras
Míseros e mortais
Austeros










Magnificat


Pensa o impossível . conquista a asa

O teu sonho é a busca...

Canta o teu sonho
Caminha com o esforço

És caminheiro . és tua casa!


















Ruas

Percorri as ruas em busca
de um abrigo
Espreitava os buracos
da miséria
E matava a sede da busca
de encontrar um norte
alimentava-me
de sonhos perdidos
e não era um abrigo
o que eu buscava
mas um rumo sonhado
e nesse desnorte
perdi o coração
…as ruas fecharam-se
cada vez mais forte;
em perigo pedi salva-vidas…
pra comer, enfim dormir ,
mas os companheiros
desentendiam-se
não fosse o pão fugir
Tive diversos tipos de companhias , uns sem tino,
outros sem rumo, nem migalha outros
sem-abrigo acomodados à fome
de pedir esmola
Passa-se fome bem
Passa-se fome mal
Ou não se passa nada
Que a fome é uma aventesma e o
nada um medo absurdo e o
sem abrigo é um acanhado
é uma pessoa simples em demais
que não usa os jogos de interesses sociais

que vê o mundo a preto e branco


Aliterações sobre a pobreza

Grávido de vida
Bolsos vazios e rotos
Olhos perdidos no espaço
em que caminha
A ruela escondida
E uma menina pergunta:
O que são pobres?
Pobres nem sei eu
Que não sou rica
Que não sou pobre
Tão-lamento os pobres
Que parecem sê-lo eternamente

Os da face caída
Os da roupa rota
Os da cara torta transtornada
Os da cara-zombie
Os do corpo deformado
Os que pedem esmola
Os que se embriagam
Os esfomeados
Os que se não saciam
Os transfigurados
São por demais os pobres
E é o lamento insondável
que os distingue

O Homem do saco

Em redor do mundo
Sussurros gotejando paredes
Lamentos como preces
Em redor do mundo, cabisbaixo

Anda o homem do saco
A aventura abriu-lhe o coração
Em busca do fim do arco-íris...
As têmporas enrugaram-lhe a face
Caminhos feitos de passos perdidos
Transporta no saco roto
Seu próprio cadáver tosco;

...anda com lassidão,
É intelectual fora da multidão

Dentro da miséria factual
Arroja o saco virtual
Deita-se no buraco
De que também foge afinal

Não tem lugar,
Só tem Coração




O sem-Abrigo

Faz dói-dói
Atina o menino
Eternamente preso no ventre donde saiu

Já não sou eu
Já não sou menino
Mas pra onde vou
Ser pequenino? E ter miminho…

Minha mãe não quero que dói
(Minha mãe eu quero quando dá beijinho)
Desatina o menino
Louco pela liberdade
E segue de coração desafinado pelas ruas de armas serradas
Pela pátria por caminhos escuros
Onde se lhe perde o encalce







Noite

Ás vezes sucede-nos o absurdo
Sem culpa queimam os olhos da noite
A realidade nua e crua
...o vento pela janela
Consigo arrasta vozes
Que nos chamam
Arrastam ao vazio
Ou provocam um arrepio
...são enganos, são enganos
Tormentaeinunano
Delírio dos enredos
...faz-nos medos

O sol brilha, já é dia
Já a noite não é recente
E o acordar é espanto
Do que dormiu , entretanto











A Minha Poesia

O meu silêncio
É feito dum tempo longo
Devora-me languidamente
Desconstitui-me de mim

E nele adormeço
Sem me encontrar
Ávida do encontro

Sedenta de vida
Busco a mão amiga
Mas esta é uma doença
Que me tem presa
E fatalmente sucumbirei
Ou não… e uma e outra vez
Erguerei as mãos em súplica
Pra me reclamar

Ao menos a minha poesia
Débil…delicada…fraca e frágil





Vagueando

Saí dalgures, e algures era a minha casa

Se acaso voasses…e atingisses no cume
O ceu de ardosia azul talvez no sossego do lar quando chegasses lá florescessem rosáceas anis
Anis de azuis teus olhos ofuscando as penumbras outrora - Quando sem abrigo
Eras um outro e o céu era o teu pranto…tu
Contigo o teu defunto - longos dias, longas noites
Num ápice se cederam - Em tuas propriedades…
Que podes agora chamar casa,
Que os humanistas  falando de fé no ser humano
E do teu futuro como cidadão
Te ofereceram como oportunidade
…ideal social contra o miserabilismo e…diga-se: uma boa solução! Mas, …ainda vagueias de tempos em tempos
O senhor do céu olhou-te
E diz-te todos os dias:
-- ei, aí tu és gente
Completa o teu espaço!
Finges que dormes descansado
Há já algum tempo
Mas a tua marca é  timbre da
forças de gigantes e tu tens destino de peão,
Cais no aluvião …pois foste jogado…ao acaso
Cai sempre alguém! É a roda, é a roda da alienação!




Ser Alguém

Ser alguém, ser gente como os baptizados
Compreender os seus fantasmas acocorados
No nimbo duma solidão constituída
O tempo passa além da infância
E com ele surgem sinais mas só o tempo, a sorte e a busca nos faz notáveis, através do amor que demos e recebemos da paz que estabelecemos
Dos laços que criámos, sobretudo se compreendemos o Amigo - Ainda que tivesse recusado ajudar-me
E o não-amigo, (se somos livres por igual me ilude em tudo ás promessas se as houve)
E de entender a voz da liberdade

Pronto! Presente! Sou alguém e grito
Dentro de mim próprio
O bem-fazer dum caminho traçado
Argumentos… nem audácia tenho
Possuo nada…e apenas sou ente…Presente!







Prendas

Míriades de prendas
Uma andorinha semeou
…No anil do céu seu espaço
Um clamor de esperança nasceu
-- Pelo nosso amor-criança
Pão da ventura,
Amor do nosso amor-semente

Por vezes dói saber
Que o amor nasce do
ventre das manhãs

Nascituro e gigante
Por vezes de um céu menor

Do âmago do crente sai
…gritando gente
A caminho dum sentido do amor
E da paz







Despertar

Sou uma deserdada e também possuo o medo e a culpa
Plos erros cometidos por amor
Ou por fervor eis tudo!
Carrego esses sentimentos apenas
Sentindo a rua sentindo a tormenta
Asfixio momentaneamente
Baixo a guarda e a condição
A voz da assistente social estala-me no peito
E o medo, esse ab interior permanece intacto
Sempre que se manifesta de não poder ser indiferente
Sendo igual a toda a gente e,democraticamente
Saio na rua á rua e o que sinto e vejo
São actores e actrizes bem-vistos
(desde que autorizados)
Aaaargh!
Vejo o que não sentia nunca
Antes de acordar
E entrevejo horrores
- arranje um amante
Disse-me ela anos volvidos
Disse-mo como quem oferece uma gota de água a uma rosa murcha


Renascer

Esqueci os instantes
De puro encantamento
Esqueci-me de renascer
Contigo…

Não há considerações apropriadas
Há apenas montes de lembranças

E no coração cogita
O parco sentido de te amar

E por fim agora tenho na mão
Um passarinho magoado

Que sobreviveu ao esquecimento
Nem sei como o acalentar…
Desvanece-se o sentido


Pura Promessa

Deste-me teu coração e
Agora a voz do guardião dos sonhos…
Canta no meu espírito!
...querido amor,
Eu conheço teu entardecer
Ás voltas com o nosso nome
Na rosa do peito...
Um cântaro de promessas
E o vento sibilando
As velas acesas
As puras promessas
Ao peito cantando

...a voz do inefável
E do imprevisível sussurra com o vento e
Cicia aos pássaros
de longes segredos
Feitos de amor
Mas também de eternos medos
Querido amor
A mais pura promessa
Ao peito cantando
Imensa, ardendo
Impoluta se desvanecendo
Ardendo … como disse,
Ao peito cantando

Preâmbulo

O que nos sublimou
nesse tempo esparso
Ditoso preâmbulo de amor
que nos prendeu,

Cedeu à distância dos momentos
Raros…
…Connosco agora é a esfera
E ademais a busca:

-- Que nos cala o grito
Que já demais é amiúde…!

Esgotou-se, amor!
Esgotou-se o émulo instante…

Calaram-se os dedos das viúvas
Que os simples são os que se calam









Beijinhos

A face de um esplendor
Oculto num gesto faz
A semente do amor
Que assim me dás

Caminhos juntos a ver
Se se entende o caminho mais
Ou se vai compreender pra trás

Beijinhos presos num laço
Certezas fitas ao serão
Só se se compreender
Caminhos vão


Desilusão

À hora dos ventos
Que impiedosos, inconstantes

Dissiparam nuvens
de plenos sentimentos
de uma só sezão

Enquanto os lilazes
Frementes, caídos
Assim povoando a desilusão
dispersos, caídos no chão...

Se ao menos nos céus
Um bando de aves
Acordasse as vestes...
Dos anjos celestes

Assim, por amor
teus nobres cuidados








Sentidos

Cambiando sentidos
Teus dedos perdidos
Na pele vão traçando
Silentes esferas,

Completas quimeras...
De contentamento...
Se às vezes te digo
Amor, meu amigo

Não sem reparar
Que nunca vou só
Que quando me vou
Vens a acompanhar



Construção

O longo fio que nos prende
Em semblantes cruzados
Ardendo em rosa-coração

…medo que temos,
não-cair…incertezas

Abro teu nome perto do meu
E obtenho lugar em
teu espaço…ilusão

Perto do teu horizonte,
tua esfera conquistada
Tua mão certa em mim

Depois cálidos lábios,
Seguros voam no espaço
…certos em busca de nós,
Assim…








Ao Sol

Ao sol ao ser
A dança iluminada
Que teus passos guia
À luz de tua sede,
O caminho ou nada
Teu caminho é
Natividade
Doce embalo que meus passos guia

Ao longe tu me envias
O doce prenúncio de
Me bastar ao ser caminho

Meus passos guiam teu chão
De ser faminto
Meu ser de ser caminho-guia


Cântico

O cântico em apogeu
Das tuas mãos nas
Minhas saciando
Abrindo em meu
Peito inefando
Um patamar de Vida natural
Na natureza clássica estrutural
Sossega, amor , menino
Em meus braços, pequenino
Teu gesto é o meu, deveras
Tua fronte brilha eras
À luz do luar o capricho
Com sabor a bons momentos
Ou a sal de mil quimeras
cantando,
Como que cantando
o mar reune nossos passos
em mil abraços…à beira-mar desaguando
numa orgia de passos








Breve Amor

Breve amor,
Partiste-te de mim sem surpresa
No início
Confuso o ser
Certezas ou ilusões
Partiste-te meu coração em lamento
Meu lúgubre sentir exultou
Caímos os dois na própria ideia
Sem saber que deveras
Haviam promessas
Se havia surpresa
Sem exclamação
Se havia mundo
Dentro do coração
Falange falanginha falangeta
De que falava afinal
A canção do poeta?


Caminhada

Quem és que me fazes
Brotar um entusiasmo
Na semente um espasmo
Mordo o pó da estrada
Nesta longa caminhada
Que é que me acorrenta aqui
Ser amor ou não ser
Pó lume embriaguez
O sentido da vida diz
Quero amor e novas lembro
Caminho adiante em torpor
À ilusão fera, amor
Sózinha ou mão na mão
Temo-nos no coração-coragem
Mão na mão sugere
um caminho profundo
Só a serpente envolve no mundo
A plácida sedução
Nesta caminhada
De amor e amizade
Amor, camarada
Há no caminho saudade
Do pó do trilho
Que nos aproximou
Do cântico
Que nos aproximou
A merenda no caminho
E afinal, o amor é também amizade
São amoras maduras
São cartinhas de saudade…



Apenas

Sabe ao peso do silêncio
A escrava servidão
Da escrava clausura
De tinta presa na ponta da mão
De ser áurea a tinta escura
Por pão-semente o silêncio
Por pão atenho o horizonte
E nessa volta tudo mente
Cai a fausta cortina
E sabe demente
A escassa rotina
Tudo que prende loucamente
é prenhe de ver escassa
A tinta fina













Certezas

Sem certezas do teu amor lamento-o ser triste
Dentro de mim ir sendo carente em riste
Ao veres minha contradição levar
Sina a lamentar ausentes as demais
Poucochinho são …quem és tu que me fazes
Brotar um entusiasmo, na semente o espasmo
Ser amor ou não ser mordo o pó da estrada
Nesta longa caminhada, o que me acorrenta aqui
Pó lume embriaguez o sentido da vida diz
Quero amor e novas lembro, caminho adiante em torpor
À ilusão fera, amor, sózinhos mão-na-mão
Temo-nos assim no coração-coragem
Em caminho profundo
só a serpente em ardor
Irrompe…À plácida conquista…












Tantas Mãos I

Uma vez tantas por adormecer
Outras tantas pra acordar
Tantas mãos

Solenes ensejam o próprio desejo
Almejam buscar o padrão
A nervura finíssima , o amor

E desejam a busca maior do desejo
Premente frémito
Ardente loucura, fragor do amor

A ver à distância
Loucura maior ou liberdade

(Tomou em seus braços
A linda donzela
E clamou pra ela também o tomar
Assim em seus abraços
Dormem sossegados
No ninho de amor)





Tantas Mãos II

Tantas mãos d’alvíssaras
Louvam teu nome sagrado
Estendem-se ao lume
Do teu fogo sagrado
E entendem o coração
E entendem a coragem
E entendem o ardor
Para além do leve sacrifício pungem…
E adestradas mãos
Algumas cegas coíbem-se
De se dar as mãos
Presas num beijo
Seguem o trilho, a peugada
Dessa ilusão nómada
Que perpassa os anos
Que se chama amor











O Pó das palavras

Onde foste beber o pó das palavras...
Nada faria sentido sem
submeter ao jogo da dúvida
Esse mesmo esplendor
Se acaso duvidar do prazer
Pode significar excesso

Seria mel o sabor de cada dúvida
Afora as minhas noites
de sonhos intocáveis
...
É dum enorme absurdo o retábulo
Que me deixaste com tuas
pegadas assinaladas
Como recordação
...
O ser tu mexe com o ser eu
Inventaste tua partida
Sem pensar que a ligeiros passos
É a mesma música triste..
Sem ti a noite é branca e imensa
E o esplendor um momento a sós
Contigo contíguo ao prazer




Amor-Máster

O teu carinho incandescente
Caminhando em mim envolvente
Sim, como um grande amigo
Incitando o meu íntimo ardor inconsciente

És um grande amigo, meigo…
Trazes-me na tua mão
Como a um pássaro
E por fim o meu medo é nada…

E o trilho distante faz…distante o medo;
E diz-me o teu olhar profundo,
ebúrneo, em azuis flamejando:
Teu medo era, vês do tamanho do mundo…
Mas, guardas segredo de repente:

Tou contigo…teu medo é nada
Porque eu próprio por ti o possuí
E ao seu fragor e entranhas animais
Eu sou do teu medo e tu do meu sussurro
Estamos juntos,
Mas isto foi o que não te disse e isto é tudo…!





Entrecéus

Amor lindo amor
Ao ver-te o meu olhar perde-se
No teu se demora amor lindo amor

Já veio o outono,
A nuvem chora…
E o coração aventura ainda mais amor
Entrecéus anoitece e como os demais
Fecho os olhos…

A obscuridade da alma traz-nos o abismo
Novas que me diz um pássaro
Acerca da tua saudade ser a oferenda
Do teu amor, lindo amor
um canto extravagante
A ver espelhado no lago dos patos o teu olhar e,
Simplesmente divagar
À neblina o sopro do amor

Que cimentando vai a tua ausência







Pecado

Eras em mim
como um pássaro
Eras um hábito livre
Soltas solene
a confissão
Dum pranto que
te não conteve
Mesmo saciado
aguardas o banquete
Do pomo ardente
Ardendo em
rosa coração
Teu fragor quente


Visual

A pele magoada em mim
Deriva da conjectura
Sobre nós dois termos partido
Em busca do princípio
Da animal-confiança

…o ser hesita e grita
Clama urgência
E inspira-nos revolta
Aumenta a dor e a ausência
Mas não volta

…De novo o primevo enlace
De ser e já não haver
Na pele o mesmo anseio











Ser Amor

É hora de paz
Depois do amor voz
Cantam dois pássaros
O êxtase-silêncio
...
Em ruelas caminhos juntos
Em direcção a nova dança...
Doçura, encanto...
Cadências desbragadas
E intemporais sorrisos, instantes
Da paz revelada
...
Ser amor não é nome que cogite

É apenas brutalmente
O ser que grita
E faz do ser amor o que cogita









Sementes

Estava eu, escrevendo só
Na encruzilhada, e medo tive
De se dar um nó…e fui ao rio da prata
Só vi monges, a caminhar sem nada

Fui ao rio do cobre, e só vi o pobre
Fui ao rio do ouro, e vi os refugiados
Buscando o tesouro aos deuses alados

Caminhei convicta que o pouco que tinha
Pois que era audaz, era como minha

Semeei cura, semeei sorrisos
Pois que a procura era da alma ouvidos

E concretizada, comprei  o meu pão
Nem ninguém roubado
Nem eu um ladrão





Vagalume

Tu eras um vagalume
Tal minha compreensão
Da tua aurora, Mãe….
De tua insatisfação

A esperança era em tudo
Como em tudo eras criança
E tardava o meu olhar
Admirado, pousado
Em tua infância, Mãe…

Cárceres e carcereiros
Te botavam num peito aberto
Bocas do inferno e tu, menina
Subias ás árvores
Colhias o fruto e bebias

Do desejo que te ficou
De desertares, ignoto
Em toda a tua sina

Embebedaste-te em menina!

Passarito

Ó, passarito
Levanta-te aos céus

Voa, inda que morras
Sem asas…
Pois que não é só de
Crisálidas

Mas também de anjos
Que despontam

Borboletas …<<<<<<











Momentos

Cai de súbito sobre mim
A questão do que é viver a vida em questão…
Do que é a vida em mim,
Constante e esparsa
Cadenciada e iludida
Permanentemente escassa

Do amor urgente
Em sentir divago…
Posto que meu sentir é vago

E que só arde em céus
Para glória dum deus avaro

Um bocado, há bocado
Senti gemendo uma criança
A que fui por dentro antes…por momentos






Sómente

É pálida tua mão ainda que ardendo

Ainda que teu coração pare por um breve tempo

Teu sorriso pérola,

Ainda que escarnecendo…

Paira um amor somente

No instante evanescendo

E as rubras rosas do peito ardendo
Se teu momento foi dele feito…

E a rara e escassa ruga crítica do instante

Assim de mim em verso

Paira caindo sobre ti
E meu sobressalto,
Faz-te meu sorriso fulminante…
Somente um instante
O Rei

Nos céus havia um rei
De barbas grisalhas dormia agasalhado
Cansado do governo mal-parado, vendo um povo inerte

E uma princesa, lindeza
Cofiava seus pêlos
Para no sono, entretê-los
Ao rei que descansava

E nesta metáfora incerta, inquieta…
Voava uma borboleta
Que a todos desassossegava
Primeiro vieram os cães
Ópera aberta ademais
Enquanto el-rei dormia

Porém de fado, a princesa
Que borboleta lindeza!
Que já sossego não queria
E após…os ladrões derribaram as cercas
Pois pra sossegos futuros
Eram o que mais os impedia
E saquearam as leis
Das tábuas dos reis
E acordaram o mister…
Solene e repousado
Ainda governou um bocado
E acolheu-se aos artistas
Mas, o facto é que caiu
Tropeçando num gentio
Cegando ambos os olhos
E terminaram suas eras aradas por feras escarninhas
Tais ervas daninhas’



Amar

Imenso e adjacente
A mim o teu olhar
Que me faz, enfim…
Um buliço arfar

Carmim e convexo,
Teu grito sexual…
Caminho em todos os sentidos
Imerso no meu plexo

Caminho…
Tu e eu somos uma só passada
Eterna caminhada…
Vivemos o mundo do amor

E, por fim me dizes:
-- quem sou eu pra ti,
Aqui ao pé do nosso momento?
Eu sou…e digo:
-- O teu êxtase e o teu carinho








Felicidade

Na (in)consciência de ti sem ti
O eu dissolve-se no acaso
Assim eu viveria sem ti um só luar…
Já madrugada, ao encontro do espaço
Na vergonha do acaso
Quis que compusesse este tema
A Ti meu herói-menino sem causa nem destino
O beijo num sorriso e nossas gargalhadas
Dentro duma obtusa absurdo-casa
Em meu peito um cavalo suave…
Do alquimista que gota-a-gota
Me dá seu amor…adeus, amor
Se portanto, o achares apropriado
Assim se quiseram
Pra sempre contentes
Assim se beijaram
Como inocentes
E ver a felicidade
Chegar sorrindo
E em silêncio
Darmo-nos as mãos
Na hora da chegada






Tu és perto de mim

Todos os sinais da terra…
Consumidos pela violência-guerra
Dos sinais do amor ao longe

Dos nascituros-d’além
Que rompem a brisa do mar
E rasgam a vida em buliço

Que rasgam a vida
E os céus num fervor caloroso

Consome-nos o arfar da terra
Tu és perto de mim

O amor é como a brisa quente e leve,
Momentânea, momentaneamente…











Deixa

Deixa-me aprender sobre ti
A tua vida é-me ampla
E essa amplitude o meu horizonte
Na paisagem do nosso amor

Quero ser um caracol a percorrer lentamente
As tuas vagens, como que um vegetal fosses

Eu e a minha esplêndida casa
Percorrente e selada a ti
Sem destino, vou e volto
Esperando que a brisa suave
Nos emudeça, e assim floresças

Vou e volto nesse cavalo suave
Adentro a maresia
Esperando a tua aquiescência…
Que queres?
A mim?
Não…
És demasiado triste, oprimido
E cansado
E assim o meu discorrer sobre a tua rota
Adentro quimeras
Faz-me sentir carinho
E o último dos românticos

Alento

Voa ao longe ave breve
Que o rio se estende
No seu fragor suave

Alimentam-se as manhãs
Do vento que desfaz os cúmulos

E tua boca silencia
O meu espanto e cicia
Ao de leve o mais leve canto
Se ao menos o teu olhar
Na planície imerso, debruçado
Recolher viesse e dar
O que se oferece
Em forma e espécie
… talvez não demorasse
E assim contente
A natureza perpetuasse

…cai a noite e é tempo
Dos horrores que à febre prenuncia
A dúvida e a prece
Adormeço e esqueço
Mas tão breve acordo
E não muda a paisagem
A não ser ter um novo alento


Quimeras

Entrevi dentro de ti o que te dizia
E, se não percebi, talvez que sentia
Que o sentido das coisas
Em vão, então
Quimeras morria…
Avaras palavras murmurei
Tão-sómente as proferi sem pensar
Que beleza via só por te olhar

Que gesto entendi, se eu sei?

Mas do teu agrado me apercebendo
Que sejamos dois ou um só
Falando tolices, adiando o tempo
Que cá dentro, forte
Bate amor,
Bate esperança
Amor…









Olhos de Adeus

Uma flor na mão, vou procurar-te…

Um gesto de adeus, somente por ti
…cai a noite ou assim e longa vai
…tu longe de mim

O cálice da flor que lembra a colheita,
Ao vento a balouçar…

Carpem dedos de viúvas
Pela sina triste dos amantes tresloucados
Que choros aos ventos rasgam amiúde
E a noite é mais longa por já não sermos os dois
Choram os meus olhos á longa noite que cuida
Por diferentes certezas pétalas de malmequer,
Belezas, saímos e partimos
Por entre a multidão…já não te quero ver

Melhor é cuidar--Uma lágrima rolou
A quem saiu a perder
Com cuidados por ti, vi-te feliz e fugi por essa noite adentro…de luz banhados meus olhos
pelo teu momento




Elementar I

Oh!Elementar…
Posso insistir, meu caro amigo
Posso ir ouvir, sobretudo e ademais
Caminhando, caríssimos, ademais
Embaraços…quaisquer
Flores-malmequer, de tino, maravilha
Ou suspiros de amor…sem certezas do teu amor…

Lamento-o e é triste
Dentro de mim ir sendo
Tão carente ao veres
Minha contradição levar
Sinas a lamentar, poucochinho são
De cada vez, sinas
Mais entrementes, seus pormenores
Caem finos dedos de chuva
Na eterna condição
Por ser dos amantes a luz-brasão
À flama o brilho de eternos instantes
Serem a história do amor
A história dos amantes






Elementar II

Sem certezas do teu amor
Lamento-o ser triste
Dentro de mim ir sendo, carente em riste
Ao veres minha contradição levar
Sina a lamentar, ausentes os demais
Poucochinho são, quem és tu que me fazes
Brotar um entusiasmo, na semente o espasmo
Ser amor ou não ser, mordo o pó da estrada
Nesta longa caminhada
O que me acorrenta aqui:-- pó, lume, embriaguez!
O sentido da vida diz:

-- Quero amor e novas lembro
Caminho adiante em torpor
À ilusão fera, amor
Sozinhos mão-na-mão temo-nos assim
No coração-coragem em caminho profundo
Só a serpente irrompe á plácida conquista









Olhar

Tu és uma luz clara, branca, radiosa
Como que me iluminas
E ao meu modo de ser predominas
Eu dou, tu dás
Em claridade
E esse dou diz, respeito à possibilidade
Na obscuridade
Em que sonho contigo
Também me faz
Sentir em ti
Um grande amigo
E eu porfio em teu  querer
Que, desconfio…
Que só por te ver
Que olhas e olhares
De intenso brilho e vagares
A imagem sagaz que eu persigo
E é pertinaz dizer-te:
-- Amigo, que bom é ver-te








Segredo

Dentro de mil-anos luz
Ou talvez eras
Não sei,
Vou ser futurista:

-- hoje amo-te cada vez mais
E sempre evoluindo
Desde que é passado
Cabe-me na mão este segredo
E no peito o medo
Disto ser sagrado…

Sei que vou amar-te sempre
Mas nosso amor
É uma constante tourada
Em que somos á vez
O bicho toureado
Ora cavaleiro de montada

Digo:
-- amanhã só não te vejo pra te desejar

Digo:
-- fazes parte do meu jogo e eu do teu

E xeque-mate fazemos os dois numa permuta
Em que há deus e luta
Em que pode haver sangue
Em que o amanhã não existe
Só é pressuposto nessa constatação e digo:



-- foi dado por amor o beijo que me deste

É tudo o que comanda a dor
Deste fado, deste fado



Pé-de-cereja

Pé-de-cereja lembra
O fruto do amor
Aos pés da tua luz
Em busca de teu beijo

… contido, me seduz
Saber que o esplendor se abre
com desejo a lembrar fruta tenra

… em busca de teu beijo
Por amor dessa minha cruz
Lembra, pé-de-cereja
O espelho da lua em tua luz

Quão bela, assim, amor, nos beija












Sem coragem

sem coragem
Danças sob o véu da neblina ou
Outra coisa tornada fantasia
Enfim somos um
embaixo do chapéu
Que nos arreda do sol
em sombra franca
Os heróis nunca morrem
na sombra
Nem têm sede de mistério
Excepto se em sede
Há vítimas de si a morrer
sem dádiva
Há amores plácidos que
perderam o encanto
É lenta a amargura
que envolve o coração
Sem coragem









Entrecéus

Amor lindo amor
Ao ver-te o meu olhar perde-se
E no teu se demora amor lindo amor

Já veio o Outono,
A nuvem chora …
E o coração aprende o amor

Entrecéus, anoitece, e,
Como os demais fecho os olhos
…a obscuridade da alma

Abre-se ao abismo
Novas que me diz um pássaro
Acerca da tua saudade

Ser a oferenda
Do teu amor, lindo amor
… num canto extravagante
E ver, espelhado no lago dos patos
…da manhã, o teu olhar e,
Simplesmente divagar,

À neblina…o sopro do amor
Que cimentando vai a
Tua …ausência

Lírios e Rosas

Falecem-me os olhos
Adentro os teus, as mãos em pressas,
Sem pressas…
E entre a lua e eu
Existe o costume dum altar
Em preces consumido

Mormente o tempo passe
E, construa a sentinela
Lírios e rosas na janela…

E, tão depressa vá
E venha o vento
Num descontentamento

Simplesmente, o lírio, em tua mão, de mim
Floresça e se renove
E a rosa fresca que me dás…

E, que me comove, selvagem
Esplêndida, perpasse os dias
Em que ma deste

São graças, Deus, são graças!
E outro corpo, outra veste
Lembre ao sereno, fulgor
Do estio um renovado crente…
Q’Este simples dizê-lo é o que me atinge
E desfaz…em um propósito
O sentimento perpétuo
Das flores que jamais murcharão
Dentro do peito, no coração












Subtil

Á noite no sossego
Parece o buliço
Estranhamente inútil
É senão quando
Nos invade o medo
Amansa-se em nós
A pouco e pouco
O eu inquieto
A porta fecha-se
As pálpebras pesam
O mundo dentro de nós
Ainda gira
Num sentimento inútil
O sentido desse movimento
É inútil
Como um louco na cela
Se agita no segredo
Caímos no leito
E amamos ou sonhamos
Após o arfar do dia
Que passou nesta mão vazia
O corpo jaz no leito
E buscamos um encontro perfeito
Para entrar no sonho…
Esse monstro medonho

Passarito
Ó, passarito
Levanta-te aos céus
Voa, inda que morras
Sem asas…
Pois que não é só de crisálidas
Mas também de anjos

Que despontam …borboletas…